sábado, 30 de agosto de 2008

O morcego


Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora vêde:
Na bruta ardência orgâniga da sede,
Morde-me a guéla ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede ..."-
Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego um pau. Esforços faço. Chego
A toca-lo. Minha alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto.

Augusto dos Anjos

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