Técnica da luz, do apelo visual e tal
A magia da fotografia é congelar o
tempo, eternizar o instante. É, antes de tudo, um modo de ver. Não é a visão em
si mesma. Fotografia não é uma espécie de agitação moral ou social, destinada a
nos incitar a sentir e agir, mas sim um projeto de notação. Como consumidores
de imagens que somos, devemos compreender melhor a maneira como a imagem
comunica e transmite mensagens.
Trabalho com segmentos diferentes e,
sempre que estou numa “missão” fotográfica procuro ter o olhar atento a tudo
que está em minha volta. Não apenas o foco do trabalho em si. Gosto
especialmente de pessoas, seus olhares e mergulho o mais fundo possível, até
onde me permitirem.
Fiz esta foto num lugar onde achei que
não conseguiria criar algo diferente do meu objetivo ali. Mas caminhando por
entre corredores sujos e sem cores percebi que ali era o mundo deste senhor que
retratei. Lá ele passou toda sua vida. Sabia que não haveria tempo de criar.
Eram 3 cliques apenas.
Enquanto caminhava e alguém me dizia que
este senhor era um personagem famoso do local, meus olhos caminharam pela
cobertura transparente que deixava passar uma luz difusa e homogênea. As linhas
desta cobertura formavam uma composição que ofuscavam a parte de baixo, escura
e sem cor. Davam impressão de trilho e o ponto de partida era aquele senhor de
boina e barba brancas. Já compensei o diafragma com meio ponto deixando passar
um pouco mais de luz.
Quando se fotografa pessoas comuns em
público há o risco da timidez transparecer nos olhos, se a foto demora para
acontecer. Sabendo disso, quando me aproximei perguntei, já com a câmera nos
olhos: “tudo bom com o senhor?”. A foto fiz na resposta: “tudo bem minha
filha”. Esses olhos serenos dizem tudo.
Artigo publicado na revista Luz & Cena
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