quarta-feira, 3 de junho de 2015




Técnica da luz, do apelo visual e tal

A magia da fotografia é congelar o tempo, eternizar o instante. É, antes de tudo, um modo de ver. Não é a visão em si mesma. Fotografia não é uma espécie de agitação moral ou social, destinada a nos incitar a sentir e agir, mas sim um projeto de notação. Como consumidores de imagens que somos, devemos compreender melhor a maneira como a imagem comunica e transmite mensagens.
Trabalho com segmentos diferentes e, sempre que estou numa “missão” fotográfica procuro ter o olhar atento a tudo que está em minha volta. Não apenas o foco do trabalho em si. Gosto especialmente de pessoas, seus olhares e mergulho o mais fundo possível, até onde me permitirem.
Fiz esta foto num lugar onde achei que não conseguiria criar algo diferente do meu objetivo ali. Mas caminhando por entre corredores sujos e sem cores percebi que ali era o mundo deste senhor que retratei. Lá ele passou toda sua vida. Sabia que não haveria tempo de criar. Eram 3 cliques apenas.
Enquanto caminhava e alguém me dizia que este senhor era um personagem famoso do local, meus olhos caminharam pela cobertura transparente que deixava passar uma luz difusa e homogênea. As linhas desta cobertura formavam uma composição que ofuscavam a parte de baixo, escura e sem cor. Davam impressão de trilho e o ponto de partida era aquele senhor de boina e barba brancas. Já compensei o diafragma com meio ponto deixando passar um pouco mais de luz.
Quando se fotografa pessoas comuns em público há o risco da timidez transparecer nos olhos, se a foto demora para acontecer. Sabendo disso, quando me aproximei perguntei, já com a câmera nos olhos: “tudo bom com o senhor?”. A foto fiz na resposta: “tudo bem minha filha”. Esses olhos serenos dizem tudo.

Artigo publicado na revista Luz & Cena

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